quarta-feira, 20 de agosto de 2008

''nem tudo precisa de uma descrição pequena''

Semana passado fui ao escritório geral da editora Kelps. Fiquei duas horas sentado, esperando um senhor gordo, que usava roupas boas e transpirava bastante. Ele ficou olhando pros meus sapatos, rindo sozinho e girando um anel. Falava sem parar, comentava o projeto que eu havia apresentado e dizia que eu parecia ter quase trinta anos. Minha barba, geralmente, causa isso.
Em suma, fui recusado. O mesmo senhor gordo disse que escrevo bem, mas meu estilo é muito sujo e pouco poético.
Fui ao centro da cidade, procurar algumas gráficas e copiadoras. Decidido, vou publicar esse livro de uma forma ou de outra. O projeto gráfico será feito por amigos, e eu mesmo farei a edição.
Não há mais tempo, preciso de alguma realização.
Voltei para casa, de cabeça baixa. Sem cigarros, sem dinheiro, com dor no joelho esquerdo e com uma música do John Coltrane martelando minha mente. Nesse caminho de, mais ou menos, dois mil metros, eu resolvi voltar a escrever. Resolvi voltar a beber, mesmo que em escala reduzida, resolvi retomar a minha vida. Cortei o cabelo, fiz a barba. Comprei duas camisas novas e alguns maços de cigarro. Comecei a fazer meu próprio café e a não deixar minhas meias tanto tempo de molho.
Acredite, a universidade come seu cérebro. As pessoas te sugam, os professores ignoram sua existência e a imbecilidade reina de um jeito nunca antes visto. Escolhi não ter muitos amigos, e acertei. Fui taxado, mais uma vez. Disseram que eu vou acabar sozinho, que eu sou mesquinho, que não sei dividir nada, que não sei conservar nada. Sinceramente, eu não preciso deles.
Preciso do papai e da sua mulher, que são as melhores pessoas que conheço. Preciso do meu irmão, da minha irmã e das pessoas que jogam futebol comigo. Preciso do Renato e do Rafael, e das noites que passamos tocando violão e tomando Montilla Ouro. Não preciso ser julgado, não preciso de amigos superficiais e de garotas burras.
Quando todos estiverem mortos e enterrados, talvez saibam alguma coisa sobre a vida. Talvez.
Seria idiotice dizer que eu não gostava do antigo modo de vida. Lógico que seria. Gostava bastante de beber coisas baratas e andar por aí, sem muito rumo. Gostava bastante de bancar o idiota, só para não deixar as garotinhas sem graça. Seria idiotice dizer que eu não gostava de ter vários amigos. É idiotice dizer que eles eram amigos.

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minha forma de ver o mundo muda, assim como meu jeito de escrever. sem polêmica, ou qualquer coisa do gênero. mantenho esse espaço apenas para ter um lugar no qual eu possa escrever o que quiser. é isso.